Manuel Monteiro
Um texto de Manuel Monteiro, hoje no Jornal I (com a devida vénia reproduzido), que subscrevo:
A prisão preventiva de Sócrates
Depois da prisão preventiva de Sócrates abrir-se-á uma nova auto-estrada em Portugal, pela qual circularão, ou passarão a circular, muito mais pessoas do que o ex-primeiro-ministro. Esta consequência tem muito mais relevo que eventuais efeitos eleitorais no PS, porque nenhum governante ou ex-governante, presidente de câmara ou ex-presidente, que tenha bens de difícil justificação dormirá agora tranquilo.
E esse problema é transversal, ultrapassa barreiras partidárias e não se limita a qualquer tipo de fronteira ideológica. Aliás, se assim não fosse, o problema da corrupção já teria sido enfrentado de outra forma no nosso país. Não tenho por isso as certezas de tantos ilustres comentadores e analistas, que antevêem devastadores danos só no partido de que Sócrates foi líder e em nome do qual governou os portugueses. Aceitar tal conclusão seria o mesmo que considerar que a corrupção tem um só rosto, uma só identidade, um só beneficiário, e seria admitir que, resolvido um eventual caso, todos os demais desapareceriam porque nenhum outro existiria.
Desconheço se Sócrates é objectivamente culpado ou inocente, e desconheço qual será o particular desenvolvimento ou desfecho da sua prisão preventiva, mas não será difícil perceber que estamos perante o início de um caminho em que nada voltará a ser igual. O PS sabe-o seguramente, pelo que só poderíamos estranhar se os demais partidos o não soubessem ou simplesmente o ignorassem.
Professor da Universidade Lusíada
Escreve à quarta-feira