Babá de poderosos
"No passado dia 29 de Janeiro o lider parlamentar do CDS interrogava o ministro das Finanças, com a exigência de grande minúncia, sobre a falta de fiscalização a que foram sujeitas as operações em bolsa do BCP.
O ministro Teixeira dos Santos, que antes foi presidente de uma entidade fiscalizadora (CMVM), respondeu-lhe assim: O senhor deputado não esperaque, neste momento, e passados estes anos todos, tenha aqui presente na minha memória todas essas informações. Até porque não tenho por hábito fotocopiar, ou digitalizar, os arquivos antes de sair dos lugares". A resposta é uma referência directa aos 62 mil documentos que o líder do mesmo partido, Paulo Portas, copiou e levou para casa após ter sido ministro da Defesa. O deputado ficou paralisado. Este diálogo revela bem como se pode deixar morrer um partido, de morte lenta, por inanição moral. Mas vale a pena determo-nos um pouco sobre a estratégia do CDS, e de grande parte da opinião de direita, para lidar com o caso BCP. O que o deputado do CDS tentava ali fazer era sugerir que a culpa do caso BCP, no fundo, é do Estado. Uma argumentação supreendente quando, em todos os sintomas anteriores deste mesmo caso (como os salários altos dos gestores ou o perdão de dividas ao banco) se alegava que o Estado não tinha nada a ver com o assunto.
Bem vistas as coisas, o CDS acha que os interesses dos privados são sempre legítimos. Várias histórias recentes, porém, sugerem que não é por puro amor.
Este fim de semana foi revelada a carta em que a Estoril-Sol basicamente pediu a um ministro do CDS que lhe desse o edificio do casino de Lisboa, notando que tal poderia ser feito de forma "totalmente imperceptível" e " insusceptivel de ser relacionada" com o caso em concreto. Assim aliviado, o ministro cedeu. Esse ministro chamava-se Telmo Correia, que, para todos os efeitos é uma criatura politica de Paulo Portas. E de Paulo Portas tambem tardam esclarecimentos sobre o caso dos submarinos, e os 24 milhões de euros que o construtor desses submarinos depositou numa empresa do Banco Espirito Santo.
Talvez consultando algumas dessas 62 mil cópias de documentos que tem em casa.........
Há ainda o caso Portucale, a que tambem está ligado o Grupo Espirito Santo e que não sabemos se está relacionado com um milhão de euros (às fatias pequeninas) que o CDS ganhou repentinamente de mecenas tão extravagantes como aquele a os funcionários do partido chamavam, em sotaque brasileiro, Jacinto Leite Capelo Rego.
Em tempos o CDS de Paulo Portas enquietava-se muito enfaticamentecom qualquer "cigano do rendimento minimo" que pudesse custar umas centenas de euros ao contribuinte. Chegado ao governo, parece ter tido uma relação despreocupada com o património publico quando a coisa se conta em milhões de euros e os beneficios são casinos, grandes bancos ou construtores de submarinos. Não, o CDS não quer "menos Estado". Principalmente quando estiver no Governo, o CDS quer o Estado "bábá" de poderosos. "