40 anos
Estão passados quarenta anos desde que se realizaram as primeiras eleições livres em Portugal.
Para quem, como eu, fez 18 anos no ano de 1974 todo este período que vai do golpe de estado às eleições livres de 25 de Abril de 1975 foi vivido com muita paixão.
Principalmente, quando porque estava num período da minha vida em que começava a tomar consciência politica do que me rodeava.
Foi, depois do 1 de Maio de 1974, o dia em que o povo saiu à rua para comemorar a liberdade.
As filas para se votar eram extraordinárias. A envolvência das pessoas magnífica.
Quase 92% dos portugueses exerceram o seu direito de voto. 14 Partidos concorreram às eleições mais participadas de sempre.
Hoje já ninguém se recorda que o MRPP foi impedido de participar nessas eleições porque o seu símbolo se confundia com o do Partido Comunista. Hoje alguém se lembra FEC(M-L), da FSP, do MES, do CDM e da ADMI - Associação para Defesa dos Interesses de Macau?
Era nesta panóplia de partidos em que os portugueses ser reviam, era a liberdade de constituir um partido em defesa dos ideais que julgavam ser os mais indicados para nova sociedade portuguesa.
Muitos deles, os partidos, morreram à nascença pois não tiveram votos que lhe dessem a sustentabilidade que necessitavam.
O Partido Socialista ganhou as eleições e dos pequenos partidos, entretanto já desparecidos o MDP elegeu cinco deputados, a UDP e a ADMI um.
Passados que estão 40 anos desde as primeiras eleições livres, o único partido (mesmo não o sendo pois representa um conjunto de facções) que conseguiu entrar na Assembleia da República de uma forma sustentada, fazendo frente aos partidos tradicionais, foi o Bloco de Esquerda.
Ao longo destes anos tivemos novos partidos que conseguiram eleger deputados (outros nem isso), pontualmente (estou-me a lembrar do PRD), mas que depois não conseguiram uma reeleição acabando por morrer politicamente.
Temos contudo casos pontuais de resistência como o POUS , de Carmelinda Pereira, fundado em 1976.
Recentemente e com o aproximar das próximas eleições surgiram novamente novas forças politicas que nas próximas eleições legislativas terão a sua prova final.
Uns recolheram 7.500 assinaturas, conforme a lei exige, outros fizeram “parcerias público-privadas”, como Joana Amaral Dias, todos na esperança de obter um lugar no Parlamento.
Todos eles, tanto os que concorrerem pela primeira vez as próximas eleições, como os partidos que neste momento já têm assento na Assembleia da República, deverão ser tratados de forma idêntica pelos órgãos de comunicação social.
Na passada semana tivemos conhecimento de um projecto, apadrinhado pelos três partidos do arco da governação, que pretendia a entrada em vigor do célebre lápis azul usado antes de 1974.
Para os mais novos uma pequena explicação: designa-se assim-lápis azul- porque todos os artigos que se pretendiam colocar, por exemplo, num jornal tinham de ser previamente vistos pela censura que de uma forma geral censurava, cortando os textos com um lápis azul.
Entre a passagem dos 40 anos das primeiras eleições livres e a tentativa de censurar na comunicação social o pensamento dos partidos portugueses, talvez encontremos a razão para o aumento constante dos portugueses que deixam de votar e que deixaram de acreditar na verdadeira democracia!
Por mim, que sempre votei desde 1975, encaro as próximas eleições como um verdadeiro combate: entre o dever cívico e a minha angústia e revolta.
Tudo pode acontecer até a falta de comparência.
(artigo de ontem para a Rádio Cruzeiro)