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TU-BARÃO

Órgão de opinião própria sem periodicidade e com muita vontade de emitir opiniões sobre o nosso quotidiano

TU-BARÃO

Órgão de opinião própria sem periodicidade e com muita vontade de emitir opiniões sobre o nosso quotidiano

02.11.15

Afinal quando é que morres?


No próximo dia 1 de Janeiro entra em vigor o novo regime de atribuição de pensão de invalidez.

O novo diploma deixa de enumerar quais as doenças que dão acesso a esta pensão, o que o devia tornar mais abrangente.

No entanto cria “nuances” de difícil compressão: para existir atribuição é necessário ter uma doença clinica que possa evoluir “para uma situação de dependente de terceiros ou então ter uma esperança de vida de três anos”.

A questão está em como definir qual a esperança de vida a atribuir a um doente.

Vários profissionais da área da saúde dizem mesmo que no futuro será só atribuída esta pensão a quem esteja completamente dependente ou a morrer, quem tiver doenças incapacitantes como o Alzheimer, Parkinson ou Paramiloidose, ou outras, terão a partir de agora o acesso dificultado.

Pergunto eu, depois de ouvir dois médicos, qual o médico que irá escrever que o doente tem uma esperança de vida de apenas 3 anos? Continuamos a fazer da saúde, e neste caso da vida de um ser humano, uma questão de números porque o objectivo é gastar menos.

Deixem-me partilhar com vocês uma situação que infelizmente conheço bem.

Estou a referir-me a doentes com a Paramiloidose, mais conhecida pela “doença dos pezinhos”.

Só quem frequenta as salas dos hospitais, onde esta doença é acompanhada, pode entender como esta lei é péssima, desumana e feita por pessoas que só vêem números.

Um doente de paramiloidose em estado avançado, tenha sido ele objecto de um transplante hepático ou não, não tem condições para trabalhar.

Pode não depender de ninguém mas não tem condições para exercer qualquer cargo visto o seu estado de saúde ser muito frágil.

Quem fala da “doença dos pezinhos” pode falar de Parkinson, da esclerose múltipla etc.

É de uma estupidez atroz a questão da definição dos três anos de vida.

Continuamos a tratar a saúde através de uma folha de Excel quando a mesma requer conhecimento científico, sensibilidade e caracter.

Continuamos a tratar a saúde dos portugueses com números, com o deve e o haver, com a falta de senso e não como um dos principais pilares da sociedade ocidental, onde o direito à vida é um bem primordial.

(intervenção de hoje na Rádio Cruzeiro)

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