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TU-BARÃO

Órgão de opinião própria sem periodicidade e com muita vontade de emitir opiniões sobre o nosso quotidiano

TU-BARÃO

Órgão de opinião própria sem periodicidade e com muita vontade de emitir opiniões sobre o nosso quotidiano

01.02.14

Carla Rosinhas


Começo por agradecer o amável convite do meu estimado Barão das Neves e dar-lhe os parabéns pelo blogue e o seu sétimo aniversário.

Como estreante, neste e em qualquer outro blogue (!), e porque me foi dada total liberdade sobre o assunto a tratar no meu texto… Dei por mim a questionar-me sobre o que seria interessante ‘falar’ aqui… fazendo o exercício de me colocar do lado do leitor: o que é que ‘eu gostaria de aqui ler!’.

Olhando para o mês de janeiro e, numa panóplia de assuntos que têm ocupado a ordem do dia neste mês, salta-me à ideia um denominador comum: a histeria social e o seu aproveitamento político alimentado pela comunicação social!

Explicando:

O ano de 2013 terminou com a promulgação pelo PR de um dos piores orçamentos de estado de que há memória. Pelo menos, de que eu tenha memória! E já não sou assim tão nova…

As políticas impostas pela troika, os constrangimentos do défice e as consequentes restrições orçamentais estão a servir de chapéu para a implementação de uma política neoliberal sem precedentes em Portugal! (depois do 25 de abril!) Uma política que está, de forma quase silenciosa, a alterar todo o paradigma social do país com consequências devastadoras, designadamente, na educação, na saúde, no apoio social aos mais carenciados e na economia.

Este mês de janeiro, que seria ‘naturalmente’ um mês de inconformismo e rebelião social e de contestações e manifestações de vária ordem… em que, o governo antevendo tal situação se deu ao trabalho de ‘criar’ um dia para o fim da troika, inaugurando um relógio para o efeito!

Este dito mês, tem sido afinal um mês surpreendentemente calmo, em que a crise quase foi esquecida e deixou de ser notícia… como foi possível?

No início do mês, dia 5, faleceu o nosso queridíssimo Eusébio. O nosso herói, o nosso símbolo, tão importante para os portugueses na década de 60… um homem que se libertou da lei da morte!

Uma semana depois, dia 13, o Cristiano Ronaldo ganhou a bola de ouro e foi considerado o melhor jogador do mundo! Um orgulho nacional! Chorei com ele em direto na cerimónia de entrega do troféu!

E, por fim, nesta última semana as praxes académicas, os jovens universitários no Meco e todo o histerismo que se desenrolou à volta deste assunto. Sem prejuízo da condenação que faço das más praxes e dos abusos físicos e psicológicos que são infligidos aos praxados. Eu própria só comecei a frequentar as aulas na segunda semana do 1.º ano… praxes não obrigada!

Ora, nesta sociedade de manada e histeria (em certo sentido todas as manadas são histéricas e todas as histerias funcionam em manada) tudo se confunde! E é aproveitado!

O estado de alma triste e abatido dos portugueses altera-se quando algum português protagoniza uma façanha de foro internacional.

A Alma Lusitana enche-se de orgulho dos seus heróis… o grande Eusébio, o super Ronaldo!

E, numa clara estratégia de valorizar o espírito nacional, que se encontrava desanimado e triste, aproveitou-se o desaparecimento de Eusébio e o triunfo de Ronaldo para galvanizar a sociedade portuguesa e fazer esquecer a crise!

A comunicação social embalada pelo um claro entendimento político aproveitou e galvanizou os heróis para assim se unir o povo em redor de novos desígnios.

A República necessita do culto dos seus heróis. Daqueles que corporizam os seus valores mais altos e daqueles que dão alma e alento ao povo! E, em tempos de crise e profunda tristeza de um povo, dá jeito!

E, quando o efeito Eusébio, Ronaldo, Panteão Nacional… começa a esmorecer, arranjam-se mais uns heróis: os jovens que morreram afogados no Meco e, que parece já toda a gente saber que morreram vítimas de uma praxe! Olha eu não sei!

E assim se foi a crise e a tristeza do povo…

 

Carla Rosinhas